2010-07-13

Grito para o mundo, parte um

Às vezes acho que o "Karma" não gosta de mim. Talvez isto seja um sentimento parvo de auto comiseração, mas não me importa. É o que estou a sentir hoje e, por isso, apetece-me gritar com o mundo. Apetece-me dizer mal das situações que andam a preencher a minha vida, embora no fundo saiba que não tenho grandes razões de queixa. Quero libertar esta frustração que deixei crescer dentro de mim e, por isso, vou desabafar aqui...

Depois de ter tido uma noite praticamente de sonho - o encontro perfeito, com momentos memoráveis, dignos de cinema, sou surpreendido com um final inesperado. É, no fundo, tudo o que quero! Ser convidado, por uma razão parva para subir a tua casa e quando dou por ela, estamos enrolados no momento de intimidade pelo qual ansiava há pelo menos uns meses.

Corre tudo, mais ou menos bem. A química não é perfeita, sinto alguma estranheza de ambas as partes, mas penso "Oh, isto é normal... afinal a intimidade é uma coisa que se cria e ao início é sempre estranho. Porque é que hei de estar agora a arranjar razões para estragar isto". Passo a noite em tua casa, dormimos (pouco, muito pouco) agarrados (semi-agarrados, afinal estamos na mega vaga de calor que ocorre no momento menos indicado do ano)... mas algo fica no ar. Algo que temos que falar, mas que inconscientemente não abordamos essa noite.

Para quê? Decidimos um encontro para mais logo, depois do dia de trabalho e essa será a melhor altura para falar... eu tenho que falar... quero perceber onde estamos, o que aconteceu e o que queremos fazer em relação a isso. Sinceramente, não faço questão de namorar, por enquanto, mas não é uma ideia que recuse, pelo contrário. Estava a imaginar que fosse possível. Interessante. Por isso, começo a criar um turbilhão de emoções (como faço sempre) à medida que me afasto do prédio. Estou nervoso, ansioso... quero viajar num instante para o futuro, quero que as próximas nove horas de minha vida pura e simplesmente desapareçam. Quero voltar tua a casa. Quero levar-te a minha casa...

É uma manhã sofrível, subsisto graças à ingestão lenta de alguns cafés e uso um sentimento de responsabilidade (ou culpa?) associado a alguma ética profissional para fazer alguma coisa de útil. Começo a questionar o que aconteceu, começo com o diálogo parvo interior que mais parece uma contradição parva saída de uma sitcom de baixa qualidade "Isto não vai correr bem..." "Ah vai! não viste a voz de contente dela ao telefone quando ligaste?" "Contente? Como contente?" E apercebo-me que estou preocupado. "Tens de estar calmo, tens de controlar a situação, tens que saber o que fazer. E é simples... apenas queres falar...". Não é colocar um rótulo das coisas como tu costumas dizer. Pode ser uma atitude parva, mas eu funciono assim. Preciso de falar sobre as coisas, mesmo que não vão resultar bem. Depois de as sentir, de as ter vivido gosto de as interpretar, de ver como os outros as interpretaram. Ver se há pontos de contacto, ver como os outros viram o mundo pelos olhos deles... No fundo, quero ver se estamos a pensar de forma compatível.

De tarde começo a pensar que era giro dar-te uma lembrança, uma coisa pequena. Um pequeno gesto de afecto, algo que demonstre "Ah, este tipo até é um romântico!". Uma rosa vermelha, sem arranjo, simples... Valido a ideia com uma amiga e sim, convenço-me que não é uma atitude parva. E, quando dou por ela, já é de tarde, praticamente hora de sair. Afinal, entrei bastante mais cedo... se calhar ainda consigo descansar um pouco antes de ir ter com contigo! "Só estou com 2 horas de sono em cima", racionalizo. Sim, vai ter que ser um encontro pequeno, ao contrário de todos os outros que andamos a fazer, que duram sempre até altas horas da noite.

Saio da estação de comboio, vou ao centro comercial onde me lembro vagamente que existe uma florista e dou-me de caras com um "Volto Já" afixado na porta de vidro. Logo agora que me queria despachar, que queria ainda dormir uma sesta antes de ir ter contigo, para ver se fico minimamente desperto! Mas não, logo hoje que quero ir comprar uma flor, a loja tem que estar fechada! Parecem os 15 minutos mais longos da minha vida. Exagero? Sinceramente, acredito que não. Mas a dona, eventualmente, regressa. "Ah, deve ter mesmo chegado quando eu saí". É cordial, simpática e nem reparo na demora... apenas penso "Por favor, vende-me rapidamente uma rosa vermelha para eu ir para casa!". E sim, tem e está tudo bem. É cara (afinal estamos em Lisboa), mas o que isso importa?

Nada... até que começo a andar e recebo o telefonema. "Uma amiga minha está cheia de problemas. Está mesmo mal e precisa que eu a vá ajudar. Não podemos jantar hoje." Coincidência? Verdade, ou uma mentira infantil? Sinceramente, não me interessa muito e consigo vencer a desilusão da expectativa criada durante um dia, porque assim sei que vou conseguir descansar durante a noite. Podias ter-me ligado uns minutos antes, mas pronto, já se sabe... estas coisas funcionam sempre assim não é? E mando uma mensagem quando chego a casa a oferecer ajuda se precisasses de alguma coisa. Na realidade,  acho que adivinhei nesse momento o resto da história. Não é uma questão de autoconfiança, ou de incerteza. Aliás, nesse momento, foi mais a certeza que algo *não* ia correr como eu desejava.

E não me enganei. Só me faltou foi o pormenor da viagem para a Alemanha que tão rapidamente me foi oferecida, como me foi retirada. Raios, é que tinha sido na altura perfeita. Estou mesmo a precisar. E, ao invés disso, ando a escrever aqui enquanto faço mudo de janela com alguma frequência para ver se já me respondeste aos e-mails que começámos a trocar entretanto... e acabaste de o fazer.

Sem comentários:

Enviar um comentário