2009-10-01

Memórias



Salvador Dalí - A Desintegração da Persistência da Memória (1952-1954).

Pareceu-me adequado agarrar num dos quadros que me diz alguma coisa, neste caso a Persistência da Memória para iniciar este post. O quadro diz-me alguma coisa porque já o tive que pintar no passado, numa vida distante, quando era aluno do secundário. Sempre gostei de Dalí, por causa das formas, por causa da "não-realidade" que ele transmite. Parecem imagens que habitam sonhos... e isso mexe comigo.

(...)

Estou a catalogar fotos no Picasa do Google. Agora há uma nova versão que permite reconhecer automaticamente caras em fotografias e assim permite organizar as fotos por dossiers de pessoas. O processo demora algum tempo (requer tempo de processamento de computador e alguma paciência nossa para indicar que as fotos que estão certas e erradas - isto é, se ele reconheceu bem a pessoa).

Deve ter começado pelas fotos mais recentes - faz sentido, só apareceram situações recentes. Frankfurt, Avante, Lisboa, a cidade onde estudo, Férias, Mestrado, Estados Unidos... a passagem de ano. As últimas férias. Contigo. Sim, não sei porque não hei-de falar também para ti por aqui.

Custa-me olhar para a tua cara. Já tenho máquina digital há quase cinco anos. E tenho de conviver com o facto de, agora, a maior parte das fotos te incluirem. De ter capturado tantos (!) momentos de íntimidade que passámos juntos. Estou a falar de férias, momentos de lazer e assim. De várias fotos abraçados. Com boa cara, de satisfação.

Custa-me relembrar disso pela questão temporal. Quatro anos de fotografias aqui, contigo. Tanto tempo. Tantos dias, tantas vezes que vou ter que olhar para a tua cara. Já não te amo, já não nutro qualquer tipo de desejo... sinceramente até penso que dispenso amizade profunda. Mudámos - para além de cada vez pensar menos em ti (sou sincero, por vezes dou-me por mim a reflectir na vida)... não tenho grande curiosidade para o fazer. Quero que estejas bem e isso digo-o com toda a sinceridade. E prefiro ter notícias tuas daqui apenas daqui a algum tempo.

E sou agora relembrado, pela tecnologia (ironia, das ironias) do que o tempo está a apagar. Ontem, andava todo entusiasmado a catalogar as pessoas - foi sempre giro escolhar em algumas e sentir-me muito "mau" ao escolher a opção "ignorar pessoa seleccionada". Há aqui um espécime (que até foi o primeiro a aparecer) que tive um gozo brutal ao fazê-lo - ignora este gajo! clico com grande convicção na cruzinha no canto superior direito! E faço um ar de mau....

Sim, como se ele se importasse. Mas soube bem, sou apenas humano!... mas não me parece bem fazer isso contigo. Estou a ser contraditório agora, é verdade... Significa isto que quero ignorar o passado, ou aprender com ele? Bem, se me der ao trabalho de te catalogar vai ser mais fácil no futuro partilhar contigo as fotos (uma coisa pendente que temos para fazer). Mas enfim... apesar de não querer enfrentar este... desafio (?) agora, acho que ajudou a por as coisas em perspectiva. E ajudar a concluir o processo de encerramento. Já lá vão quase 5 meses... mas ainda faltam as cartas. As que tenho em Lisboa, na casa dos meus pais no meu quarto... acho que cá também tenho qualquer coisa.

Mas, será que te devo alguma coisa depois de teres deixado lá os peluches e as cartas que eu te escrevi (apenas algumas) para ser eu a guardá-las, deitá-las fora, fazer o que quisesse?

Bem, é nestas alturas em que acho que fico um pouco agarrado ao passado, mas se calhar exagero. Só estou a pensar nas coisas que sinto e a colocá-las aqui. A verdade é que me fizeste bem e fizeste parte da minha vida durante muito tempo. Aprendi muita coisa contigo e acho que nos podemos agradecer mutuamente por isso. E, ao contrário de ti, não sou tão rancoroso. Não gosto de o ser, não me fazer ser uma pessoa melhor. Pelo contrário. Por isso... acho que vou catalogar as tuas fotos.


E já posso ir trabalhar.
(***)

Listening to: Editors - An end has a start.

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